Desde adolescente sempre
tive dificuldade no convívio social. Não porque não me adaptasse ou não
conseguisse me relacionar com as pessoas, muito pelo contrário. Sempre tive
bastante amigos, bom relacionamento com todos, sem muitos conflitos. Mas eu era
muito tímida, e sempre achei muito difícil colocar limites nas pessoas. Além disso, também tinha uma sensação de que não pertencia a lugar nenhum, que não era
aceita ou nunca agradava ninguém. Por isso, minha tendência, principalmente durante minha adolescência, foi de isolamento, e faltava-me coragem para enfrentar essa dificuldade.
Sempre gostei de estar
no meu quarto, ouvindo minhas músicas, lendo meus livros, vendo filmes, todas
minhas diversões prediletas. Convivia com os amigos e família, mas o momento em que eu me
sentia bem, livre de toda a pressão social, era quando eu estava sozinha,
quieta, sem precisar ser ninguém mais, sem precisar ficar com medo
de não agradar. Enfim, estar com as pessoas era ver nos outros o que eu pensava
de mim mesma. Os outros apenas refletiam o que eu pensava de mim, por isso era
tão difícil essa convivência.
Os anos se passaram, a
vida adulta chegou, e fui “forçada” a assumir uma postura na qual não mostrasse
muito essas minhas fragilidades e dificuldades sociais. Uma das técnicas que usei
para vencer a timidez e o constrangimento na frente das pessoas era o bom
humor, rir de mim mesma, escondendo assim, toda a vontade que na verdade eu tinha de não estar naquela interação. Mas o interessante é que, apesar de me sentir muito mais aliviada
sozinha, isso não me completava. No fundo me sentia mal por não ter a
capacidade de ficar bem diante das outras pessoas, porque eu gostava de estar com
elas, o problema era como eu me sentia em relação a elas.
O primeiro grande
desafio que eu me coloquei foi quando, na época do mestrado, um
amigo pediu que eu recebesse uma amiga dele na minha casa por um tempo. Ela
havia passado no mesmo programa de mestrado que o meu, e não tinha onde morar, pois era de outro Estado. Obviamente eu morava sozinha, e receber uma
pessoa que eu não conhecia para morar comigo era impensável.
Lembro que sofri por uma semana para dar a resposta, porque não
queria que meu amigo ficasse chateado comigo, além de na verdade não ter nenhuma
desculpa para não aceitar que ela ficasse na minha casa.
Acabei aceitando
porque sabia que era o certo a fazer, eu sabia que devia ajudar a menina que
vinha de tão longe. Assim, quando ela chegou, disse logo que para mim era difícil ter uma
pessoa em casa, e que ela poderia ficar ali enquanto não encontrasse um lugar
para ficar. Fiquei contando os dias para que ela arranjasse algum lugar, para
que eu voltasse a minha vida normal sem ter que interagir com ninguém quando chegasse
em casa. No entanto, esse teste forçado ao qual me coloquei, de aceitar alguém morando comigo,
me proporcionou uma das maiores mudanças e aprendizados da minha vida, pois essa
menina acabou se tornando uma das minhas melhores amigas, e me mostrou que eu
não era tão difícil assim de conviver. Ela entendeu e respeitou minha
dificuldade, e ainda por cima mudou minha forma de ver muitas coisas. Dividimos apartamento por quatro anos, num convívio
perfeito. Com essa amiga pude ser eu mesma, e para minha surpresa, continuamos sendo
amigas depois disso e por causa disso.
Pode parecer simples
para alguém que vê de fora, mas essa decisão foi um ato de coragem de enfrentar
algo que me incomodava muito. Essa exposição à uma situação tão desagradável para
mim, me fez enxergar muitas coisas que eu não percebia, mesmo com muitos
sofrimentos nesse processo. Mas no final superei boa parte daquilo que me incomodava
graças à coragem de enfrentar esse problema. Ainda hoje tenho um pouco dessa
dificuldade, mas diferente de outras épocas, sei que posso enfrentá-las e
superá-las. E principalmente, que a melhor forma de conseguir isso é através do convivío com o outro.
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