Certa vez, conversando
com um amigo, ele disse a seguinte frase pra mim: “ – Nossa, Bianca, você tem
uma profunda falta de fé na vida.” Não lembro exatamente o conteúdo da
conversa, mas aquela frase me deixou um pouco intrigada. Não porque não
acreditasse nela, de fato acreditava, era totalmente possível dado todo o meu
histórico de vida. Mas fiquei procurando como exatamente essa falta de fé no
mundo se manifestava em mim. Tenho plena consciência, por experiência própria, que
viver com essa falta de confiança no mundo traz muito sofrimento. Então fui
fazer uma breve busca nos meus arquivos mentais que corroborassem com essa
afirmação, e encontrei lá algumas lembranças.
Até pouco tempo atrás
eu me considerava atéia, e com orgulho. No meio acadêmico, principalmente
quando se está na pesquisa, é comum este tipo de posicionamento. Apesar de
sempre ter me entregado fortemente à contemplação da natureza, nunca busquei o
divino nessa beleza (sei que muitos irão achar impossível isso, mas de alguma
forma funcionava pra mim). Nunca achei necessário acreditar em algo divino para
agir de forma correta, pois vim de uma família onde apenas minha avó era
católica, mas o restante não seguia nenhuma religião nem espiritualidade. Mas os valores éticos e morais estavam sempre presentes.
Porém, senti o peso dessa falta de crença quando meu avô de repente foi parar no hospital muito mal devido à problemas renais, e fui chamada às pressas para me despedir dele. Nesse dia entrei em estado de choque. Eu não conseguía acreditar em vida após a morte da forma como os espíritas colocavam e não tinha um Deus pra pedir ajuda. Queria desesperadamente que ele vivesse, que algo acontecesse para ele melhorar, mas nada poderia me confortar naquele momento. Não tinha a quem recorrer. Eu não confiava nem acreditava em nenhuma ordem ou Deus que iria fazer o que fosse melhor. Então, uma das pessoas mais importantes da minha vida estava morrendo, e lembro bem de sentar na sala de espera do hospital e num ato de desespero mentalizar o rim do meu avô e pedir pra ele funcionar. Eu conversei com o rim do meu avô, e assim, sem saber, naquele momento estava me entregando a algo. Mas logo em seguida ele faleceu, e fiquei muito deprimida. Uns dias antes de falecer, quando ele acordou após ter sido internado, contou-me sobre a sua experiência de quase morte. Éramos muito confidentes, e sempre acreditei muito na lucidez dele. Ele relatou que viu sua vida toda passar na sua mente e estava muito emocionado, porque havia visto algo importante que não conseguiu em palavras me explicar. E eu acreditei nele.
Porém, senti o peso dessa falta de crença quando meu avô de repente foi parar no hospital muito mal devido à problemas renais, e fui chamada às pressas para me despedir dele. Nesse dia entrei em estado de choque. Eu não conseguía acreditar em vida após a morte da forma como os espíritas colocavam e não tinha um Deus pra pedir ajuda. Queria desesperadamente que ele vivesse, que algo acontecesse para ele melhorar, mas nada poderia me confortar naquele momento. Não tinha a quem recorrer. Eu não confiava nem acreditava em nenhuma ordem ou Deus que iria fazer o que fosse melhor. Então, uma das pessoas mais importantes da minha vida estava morrendo, e lembro bem de sentar na sala de espera do hospital e num ato de desespero mentalizar o rim do meu avô e pedir pra ele funcionar. Eu conversei com o rim do meu avô, e assim, sem saber, naquele momento estava me entregando a algo. Mas logo em seguida ele faleceu, e fiquei muito deprimida. Uns dias antes de falecer, quando ele acordou após ter sido internado, contou-me sobre a sua experiência de quase morte. Éramos muito confidentes, e sempre acreditei muito na lucidez dele. Ele relatou que viu sua vida toda passar na sua mente e estava muito emocionado, porque havia visto algo importante que não conseguiu em palavras me explicar. E eu acreditei nele.
No entanto, antes
mesmo da morte do meu avô, sempre segui com esta visão de mundo, enfrentando as
dificuldades da vida com esse peso a mais, acreditando que a vida era só sofrimento
mesmo. Pode parecer horrível dizer isso, mas sempre a expectativa que tive da
vida era na espera do pior. Era uma posição defensiva para alguém que não confiava
na vida, porque se o pior acontecesse, a dor não sería tão grande, pois já era
esperado. E se acontecesse algo bom, eu estaria no lucro. Então, pensando
nisso, eu entendi a frase do meu amigo, pois isso sim é uma profunda falta de fé na
vida. Não acreditar que existe uma ordem inteligente, que a vida tem um
propósito além do sofrimento, do nascer e do morrer, e que não é possível encontrar
um determinado equilíbrio dentro das dificuldades da vida é sofrimento na
certa.
Precisei passar por
muitas dores e experiências para entender isso. Pode parecer triste ou até
deprimente imaginar que uma pessoa viveu assim por tanto tempo. Mas hoje não
sinto tristeza em lembrar que eu pensava dessa forma. Se hoje acredito nessa
ordem é porque ela me mostrou da maneira que eu precisava aprender, como as coisas funcionam. Se eu precisava de provas, recebi todas possíveis
para entender que essa ordem existe e que não estou no controle de tudo. E que
esse entendimento me alivia da culpa, do “vitimismo” e de muitas dores. Tenho
muito caminho pela frente no aprofundamento desse entendimento, mas se estou
aqui, escrevendo este texto, é porque a vida me mostrou que existe esse caminho,
com suas dores, mas também muitas alegrias, com sofrimentos mas também com
muitas libertações; mundano mas, acima de tudo, divino.
Nenhum comentário:
Postar um comentário