A
questão do dinheiro sempre esteve muito presente em minha vida. A questão, não
o dinheiro. Na verdade, a dificuldade em ganhá-lo que esteve sempre presente.
Meu primeiro trabalho, aos 18 anos, como recepcionista, já apontava mais ou
menos como sería minha vida profissional. Quinze dias de trabalho, doze horas
por dia, e no final um cheque sem fundo. Numa outra ocasião, trabalhando como
garçonete, também não recebi o dinheiro referente à um dia inteiro de trabalho.
E por último, no meu primeiro emprego de carteira assinada, já nas primeiras
duas semanas de trabalho descobri que meus colegas estavam com o salário quatro
meses atrasado. Logo depois tive que abandonar esse emprego pelo mesmo motivo
dos meus colegas. E assim, ocorreram outros casos semelhantes.
Penso
que todos esses acontecimentos podem ter algumas explicações, dentre elas, uma profunda
falta de sorte mesmo, mas, além disso, e talvez mais determinante, uma desvalorização da minha parte das minhas capacidades, quase como se eu dissesse para as
pessoas que elas poderiam pagar o que quisessem e se quisessem, que estava tudo
bem.
Não é
preciso dizer como essa relação complicou quando comecei a dar aulas de yoga, pois
agora, além da questão do trabalho existia essa conexão com a espiritualidade. E
para ser sincera sempre tive a ideia de que espiritualidade e dinheiro eram incompatíveis,
e que jamais poderiam existir juntos de forma coerente. E assim, ter que cobrar
pelo meu trabalho, sendo este aulas de yoga, que estava intimamente ligada com
espiritualidade sería um grande desafio e uma mudança de paradigma. E de fato
foi. E continua sendo.
Mas a
realidade é que por três anos essa foi minha única fonte de renda, junto com a
massoterapia, e querendo ou não, era meu trabalho. Com as massagens me sentia
um pouco melhor, mas até certo ponto, porque sempre acabava dando descontos
porque na hora de cobrar sentia-me um pouco constrangida. Ou quem sabe era
orgulho? Estranho não é? Mas algo me diz que talvez o orgulho tenha também muito
a ver com minha dificuldade de cobrar pelo meu trabalho. A mente e suas
complexidades.
No
entanto, essa falta de valorização das minhas capacidades, do serviço que eu
estava oferecendo, do meu tempo e da minha dedicação fizeram com que várias
situações de desrespeito surgissem. Muitos alunos não pagavam as mensalidades
no dia, quando faltavam às aulas e não tinham tempo para recuperá-las achavam
natural pedir o dinheiro de volta. Enquanto outros faziam duas aulas e depois sumiam
sem pagar. E isso foi se repetindo muitas vezes.
Confesso
que a reflexão sobre minha relação com o trabalho e o dinheiro é muito recente. Espiritualidade e dinheiro mais ainda. No
entanto, hoje em dia, tenho clareza que o conceito que eu tinha sobre essa relação
era baseado em pensamentos ultrapassados e tempos antigos, que nada têm a ver com a realidade
atual. Porém, a minha postura no que diz respeito a mim, o dinheiro e a espiritualidade
ainda não está bem resolvida. Sei que esta mudança de atitude é importante e
necessária para o meu crescimento, e que se refere não só à minha valorização como
profissional, mas ao encontro do meu papel nesse mundo, do entendimento e da aceitação
desse papel, seja ele qual for. Não é fácil, mas creio que já estou bem mais
preparada para ultrapassar mais esta barreira.
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