sábado, 6 de junho de 2015

O Dinheiro, Eu e A Espiritualidade

A questão do dinheiro sempre esteve muito presente em minha vida. A questão, não o dinheiro. Na verdade, a dificuldade em ganhá-lo que esteve sempre presente. Meu primeiro trabalho, aos 18 anos, como recepcionista, já apontava mais ou menos como sería minha vida profissional. Quinze dias de trabalho, doze horas por dia, e no final um cheque sem fundo. Numa outra ocasião, trabalhando como garçonete, também não recebi o dinheiro referente à um dia inteiro de trabalho. E por último, no meu primeiro emprego de carteira assinada, já nas primeiras duas semanas de trabalho descobri que meus colegas estavam com o salário quatro meses atrasado. Logo depois tive que abandonar esse emprego pelo mesmo motivo dos meus colegas. E assim, ocorreram outros casos semelhantes.

Penso que todos esses acontecimentos podem ter algumas explicações, dentre elas, uma profunda falta de sorte mesmo, mas, além disso, e talvez mais determinante, uma desvalorização da minha parte das minhas capacidades, quase como se eu dissesse para as pessoas que elas poderiam pagar o que quisessem e se quisessem, que estava tudo bem.

Não é preciso dizer como essa relação complicou quando comecei a dar aulas de yoga, pois agora, além da questão do trabalho existia essa conexão com a espiritualidade. E para ser sincera sempre tive a ideia de que espiritualidade e dinheiro eram incompatíveis, e que jamais poderiam existir juntos de forma coerente. E assim, ter que cobrar pelo meu trabalho, sendo este aulas de yoga, que estava intimamente ligada com espiritualidade sería um grande desafio e uma mudança de paradigma. E de fato foi. E continua sendo.

Mas a realidade é que por três anos essa foi minha única fonte de renda, junto com a massoterapia, e querendo ou não, era meu trabalho. Com as massagens me sentia um pouco melhor, mas até certo ponto, porque sempre acabava dando descontos porque na hora de cobrar sentia-me um pouco constrangida. Ou quem sabe era orgulho? Estranho não é? Mas algo me diz que talvez o orgulho tenha também muito a ver com minha dificuldade de cobrar pelo meu trabalho. A mente e suas complexidades.

No entanto, essa falta de valorização das minhas capacidades, do serviço que eu estava oferecendo, do meu tempo e da minha dedicação fizeram com que várias situações de desrespeito surgissem. Muitos alunos não pagavam as mensalidades no dia, quando faltavam às aulas e não tinham tempo para recuperá-las achavam natural pedir o dinheiro de volta. Enquanto outros faziam duas aulas e depois sumiam sem pagar. E isso foi se repetindo muitas vezes.

Confesso que a reflexão sobre minha relação com o trabalho e o dinheiro é muito recente. Espiritualidade e dinheiro mais ainda. No entanto, hoje em dia, tenho clareza que o conceito que eu tinha sobre essa relação era baseado em pensamentos ultrapassados e tempos antigos, que nada têm a ver com a realidade atual. Porém, a minha postura no que diz respeito a mim, o dinheiro e a espiritualidade ainda não está bem resolvida. Sei que esta mudança de atitude é importante e necessária para o meu crescimento, e que se refere não só à minha valorização como profissional, mas ao encontro do meu papel nesse mundo, do entendimento e da aceitação desse papel, seja ele qual for. Não é fácil, mas creio que já estou bem mais preparada para ultrapassar mais esta barreira.

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