Como um cavalo que
cego segue as rédeas
do seu condutor, sigo
ainda na ilusão
Guiada pela mente
vivo a dor de quem não sente
que a felicidade
não é separação
segunda-feira, 29 de junho de 2015
domingo, 21 de junho de 2015
Coragem
Desde adolescente sempre
tive dificuldade no convívio social. Não porque não me adaptasse ou não
conseguisse me relacionar com as pessoas, muito pelo contrário. Sempre tive
bastante amigos, bom relacionamento com todos, sem muitos conflitos. Mas eu era
muito tímida, e sempre achei muito difícil colocar limites nas pessoas. Além disso, também tinha uma sensação de que não pertencia a lugar nenhum, que não era
aceita ou nunca agradava ninguém. Por isso, minha tendência, principalmente durante minha adolescência, foi de isolamento, e faltava-me coragem para enfrentar essa dificuldade.
Sempre gostei de estar
no meu quarto, ouvindo minhas músicas, lendo meus livros, vendo filmes, todas
minhas diversões prediletas. Convivia com os amigos e família, mas o momento em que eu me
sentia bem, livre de toda a pressão social, era quando eu estava sozinha,
quieta, sem precisar ser ninguém mais, sem precisar ficar com medo
de não agradar. Enfim, estar com as pessoas era ver nos outros o que eu pensava
de mim mesma. Os outros apenas refletiam o que eu pensava de mim, por isso era
tão difícil essa convivência.
Os anos se passaram, a
vida adulta chegou, e fui “forçada” a assumir uma postura na qual não mostrasse
muito essas minhas fragilidades e dificuldades sociais. Uma das técnicas que usei
para vencer a timidez e o constrangimento na frente das pessoas era o bom
humor, rir de mim mesma, escondendo assim, toda a vontade que na verdade eu tinha de não estar naquela interação. Mas o interessante é que, apesar de me sentir muito mais aliviada
sozinha, isso não me completava. No fundo me sentia mal por não ter a
capacidade de ficar bem diante das outras pessoas, porque eu gostava de estar com
elas, o problema era como eu me sentia em relação a elas.
O primeiro grande
desafio que eu me coloquei foi quando, na época do mestrado, um
amigo pediu que eu recebesse uma amiga dele na minha casa por um tempo. Ela
havia passado no mesmo programa de mestrado que o meu, e não tinha onde morar, pois era de outro Estado. Obviamente eu morava sozinha, e receber uma
pessoa que eu não conhecia para morar comigo era impensável.
Lembro que sofri por uma semana para dar a resposta, porque não
queria que meu amigo ficasse chateado comigo, além de na verdade não ter nenhuma
desculpa para não aceitar que ela ficasse na minha casa.
Acabei aceitando
porque sabia que era o certo a fazer, eu sabia que devia ajudar a menina que
vinha de tão longe. Assim, quando ela chegou, disse logo que para mim era difícil ter uma
pessoa em casa, e que ela poderia ficar ali enquanto não encontrasse um lugar
para ficar. Fiquei contando os dias para que ela arranjasse algum lugar, para
que eu voltasse a minha vida normal sem ter que interagir com ninguém quando chegasse
em casa. No entanto, esse teste forçado ao qual me coloquei, de aceitar alguém morando comigo,
me proporcionou uma das maiores mudanças e aprendizados da minha vida, pois essa
menina acabou se tornando uma das minhas melhores amigas, e me mostrou que eu
não era tão difícil assim de conviver. Ela entendeu e respeitou minha
dificuldade, e ainda por cima mudou minha forma de ver muitas coisas. Dividimos apartamento por quatro anos, num convívio
perfeito. Com essa amiga pude ser eu mesma, e para minha surpresa, continuamos sendo
amigas depois disso e por causa disso.
Pode parecer simples
para alguém que vê de fora, mas essa decisão foi um ato de coragem de enfrentar
algo que me incomodava muito. Essa exposição à uma situação tão desagradável para
mim, me fez enxergar muitas coisas que eu não percebia, mesmo com muitos
sofrimentos nesse processo. Mas no final superei boa parte daquilo que me incomodava
graças à coragem de enfrentar esse problema. Ainda hoje tenho um pouco dessa
dificuldade, mas diferente de outras épocas, sei que posso enfrentá-las e
superá-las. E principalmente, que a melhor forma de conseguir isso é através do convivío com o outro.
sábado, 13 de junho de 2015
Fé na Vida
Certa vez, conversando
com um amigo, ele disse a seguinte frase pra mim: “ – Nossa, Bianca, você tem
uma profunda falta de fé na vida.” Não lembro exatamente o conteúdo da
conversa, mas aquela frase me deixou um pouco intrigada. Não porque não
acreditasse nela, de fato acreditava, era totalmente possível dado todo o meu
histórico de vida. Mas fiquei procurando como exatamente essa falta de fé no
mundo se manifestava em mim. Tenho plena consciência, por experiência própria, que
viver com essa falta de confiança no mundo traz muito sofrimento. Então fui
fazer uma breve busca nos meus arquivos mentais que corroborassem com essa
afirmação, e encontrei lá algumas lembranças.
Até pouco tempo atrás
eu me considerava atéia, e com orgulho. No meio acadêmico, principalmente
quando se está na pesquisa, é comum este tipo de posicionamento. Apesar de
sempre ter me entregado fortemente à contemplação da natureza, nunca busquei o
divino nessa beleza (sei que muitos irão achar impossível isso, mas de alguma
forma funcionava pra mim). Nunca achei necessário acreditar em algo divino para
agir de forma correta, pois vim de uma família onde apenas minha avó era
católica, mas o restante não seguia nenhuma religião nem espiritualidade. Mas os valores éticos e morais estavam sempre presentes.
Porém, senti o peso dessa falta de crença quando meu avô de repente foi parar no hospital muito mal devido à problemas renais, e fui chamada às pressas para me despedir dele. Nesse dia entrei em estado de choque. Eu não conseguía acreditar em vida após a morte da forma como os espíritas colocavam e não tinha um Deus pra pedir ajuda. Queria desesperadamente que ele vivesse, que algo acontecesse para ele melhorar, mas nada poderia me confortar naquele momento. Não tinha a quem recorrer. Eu não confiava nem acreditava em nenhuma ordem ou Deus que iria fazer o que fosse melhor. Então, uma das pessoas mais importantes da minha vida estava morrendo, e lembro bem de sentar na sala de espera do hospital e num ato de desespero mentalizar o rim do meu avô e pedir pra ele funcionar. Eu conversei com o rim do meu avô, e assim, sem saber, naquele momento estava me entregando a algo. Mas logo em seguida ele faleceu, e fiquei muito deprimida. Uns dias antes de falecer, quando ele acordou após ter sido internado, contou-me sobre a sua experiência de quase morte. Éramos muito confidentes, e sempre acreditei muito na lucidez dele. Ele relatou que viu sua vida toda passar na sua mente e estava muito emocionado, porque havia visto algo importante que não conseguiu em palavras me explicar. E eu acreditei nele.
Porém, senti o peso dessa falta de crença quando meu avô de repente foi parar no hospital muito mal devido à problemas renais, e fui chamada às pressas para me despedir dele. Nesse dia entrei em estado de choque. Eu não conseguía acreditar em vida após a morte da forma como os espíritas colocavam e não tinha um Deus pra pedir ajuda. Queria desesperadamente que ele vivesse, que algo acontecesse para ele melhorar, mas nada poderia me confortar naquele momento. Não tinha a quem recorrer. Eu não confiava nem acreditava em nenhuma ordem ou Deus que iria fazer o que fosse melhor. Então, uma das pessoas mais importantes da minha vida estava morrendo, e lembro bem de sentar na sala de espera do hospital e num ato de desespero mentalizar o rim do meu avô e pedir pra ele funcionar. Eu conversei com o rim do meu avô, e assim, sem saber, naquele momento estava me entregando a algo. Mas logo em seguida ele faleceu, e fiquei muito deprimida. Uns dias antes de falecer, quando ele acordou após ter sido internado, contou-me sobre a sua experiência de quase morte. Éramos muito confidentes, e sempre acreditei muito na lucidez dele. Ele relatou que viu sua vida toda passar na sua mente e estava muito emocionado, porque havia visto algo importante que não conseguiu em palavras me explicar. E eu acreditei nele.
No entanto, antes
mesmo da morte do meu avô, sempre segui com esta visão de mundo, enfrentando as
dificuldades da vida com esse peso a mais, acreditando que a vida era só sofrimento
mesmo. Pode parecer horrível dizer isso, mas sempre a expectativa que tive da
vida era na espera do pior. Era uma posição defensiva para alguém que não confiava
na vida, porque se o pior acontecesse, a dor não sería tão grande, pois já era
esperado. E se acontecesse algo bom, eu estaria no lucro. Então, pensando
nisso, eu entendi a frase do meu amigo, pois isso sim é uma profunda falta de fé na
vida. Não acreditar que existe uma ordem inteligente, que a vida tem um
propósito além do sofrimento, do nascer e do morrer, e que não é possível encontrar
um determinado equilíbrio dentro das dificuldades da vida é sofrimento na
certa.
Precisei passar por
muitas dores e experiências para entender isso. Pode parecer triste ou até
deprimente imaginar que uma pessoa viveu assim por tanto tempo. Mas hoje não
sinto tristeza em lembrar que eu pensava dessa forma. Se hoje acredito nessa
ordem é porque ela me mostrou da maneira que eu precisava aprender, como as coisas funcionam. Se eu precisava de provas, recebi todas possíveis
para entender que essa ordem existe e que não estou no controle de tudo. E que
esse entendimento me alivia da culpa, do “vitimismo” e de muitas dores. Tenho
muito caminho pela frente no aprofundamento desse entendimento, mas se estou
aqui, escrevendo este texto, é porque a vida me mostrou que existe esse caminho,
com suas dores, mas também muitas alegrias, com sofrimentos mas também com
muitas libertações; mundano mas, acima de tudo, divino.
sábado, 6 de junho de 2015
O Dinheiro, Eu e A Espiritualidade
A
questão do dinheiro sempre esteve muito presente em minha vida. A questão, não
o dinheiro. Na verdade, a dificuldade em ganhá-lo que esteve sempre presente.
Meu primeiro trabalho, aos 18 anos, como recepcionista, já apontava mais ou
menos como sería minha vida profissional. Quinze dias de trabalho, doze horas
por dia, e no final um cheque sem fundo. Numa outra ocasião, trabalhando como
garçonete, também não recebi o dinheiro referente à um dia inteiro de trabalho.
E por último, no meu primeiro emprego de carteira assinada, já nas primeiras
duas semanas de trabalho descobri que meus colegas estavam com o salário quatro
meses atrasado. Logo depois tive que abandonar esse emprego pelo mesmo motivo
dos meus colegas. E assim, ocorreram outros casos semelhantes.
Penso
que todos esses acontecimentos podem ter algumas explicações, dentre elas, uma profunda
falta de sorte mesmo, mas, além disso, e talvez mais determinante, uma desvalorização da minha parte das minhas capacidades, quase como se eu dissesse para as
pessoas que elas poderiam pagar o que quisessem e se quisessem, que estava tudo
bem.
Não é
preciso dizer como essa relação complicou quando comecei a dar aulas de yoga, pois
agora, além da questão do trabalho existia essa conexão com a espiritualidade. E
para ser sincera sempre tive a ideia de que espiritualidade e dinheiro eram incompatíveis,
e que jamais poderiam existir juntos de forma coerente. E assim, ter que cobrar
pelo meu trabalho, sendo este aulas de yoga, que estava intimamente ligada com
espiritualidade sería um grande desafio e uma mudança de paradigma. E de fato
foi. E continua sendo.
Mas a
realidade é que por três anos essa foi minha única fonte de renda, junto com a
massoterapia, e querendo ou não, era meu trabalho. Com as massagens me sentia
um pouco melhor, mas até certo ponto, porque sempre acabava dando descontos
porque na hora de cobrar sentia-me um pouco constrangida. Ou quem sabe era
orgulho? Estranho não é? Mas algo me diz que talvez o orgulho tenha também muito
a ver com minha dificuldade de cobrar pelo meu trabalho. A mente e suas
complexidades.
No
entanto, essa falta de valorização das minhas capacidades, do serviço que eu
estava oferecendo, do meu tempo e da minha dedicação fizeram com que várias
situações de desrespeito surgissem. Muitos alunos não pagavam as mensalidades
no dia, quando faltavam às aulas e não tinham tempo para recuperá-las achavam
natural pedir o dinheiro de volta. Enquanto outros faziam duas aulas e depois sumiam
sem pagar. E isso foi se repetindo muitas vezes.
Confesso
que a reflexão sobre minha relação com o trabalho e o dinheiro é muito recente. Espiritualidade e dinheiro mais ainda. No
entanto, hoje em dia, tenho clareza que o conceito que eu tinha sobre essa relação
era baseado em pensamentos ultrapassados e tempos antigos, que nada têm a ver com a realidade
atual. Porém, a minha postura no que diz respeito a mim, o dinheiro e a espiritualidade
ainda não está bem resolvida. Sei que esta mudança de atitude é importante e
necessária para o meu crescimento, e que se refere não só à minha valorização como
profissional, mas ao encontro do meu papel nesse mundo, do entendimento e da aceitação
desse papel, seja ele qual for. Não é fácil, mas creio que já estou bem mais
preparada para ultrapassar mais esta barreira.
domingo, 31 de maio de 2015
Pais e filhos
Essa é a história de uma menina e seu pai. Vou contar
essa história porque acompanhei o seu desenrolar durante toda minha vida, e
assim, com a autorização da protagonista, sinto-me à vontade para
compartilhá-la.
A relação dessa menina, Laura, com seu pai, nunca foi
uma relação que se espera entre um pai e uma filha. Seus pais se separaram
quando ela tinha apenas um ano de idade. Não foi uma separação amigável, e
ficaram muitas mágoas e ressentimentos entre essas duas pessoas. O pai saiu de
casa e construiu uma nova família. Laura nunca viu os pais juntos, em nenhuma
ocasião, e de certa forma, a ausência desse pai foi algo comum para ela desde
pequena. Além dessa ausência, Laura cresceu com a presença de uma frase que
ouviu desde pequena, mas que não foi escutada diretamente através de seu pai. Ele havia
dito certa vez que ela não era sua filha, logo no momento da separação. E de
fato, por algum motivo, foi assim que, Laura e seu pai, conviveram durante
anos, como se nada fossem.
Laura tinha muito claro que não sofria com a suposta rejeição
do pai, mas sim, pelo seu irmão que tanto desejava a admiração e atenção dele.
Mas ela, não. A vida havia compensado está ausência com dois outros pais, o avô
e o padrasto, que cumpriram muito bem o papel.
No entanto, não poderíamos dizer que essa ausência foi
completa na sua vida. Existiram alguns momentos com seu pai, mas no fundo, Laura
sempre sentia uma frustração no final desses encontros. Nada era dito, ambos
não manifestavam o sentimento de estranheza, falta de afinidade e intimidade
que existia entre eles. E ela retornava para sua casa evitando pensar no
assunto, pois talvez aquela situação pudesse causar muita dor.
Já com 30 anos, na ocasião do seu casamento, à pedido
de sua mãe, telefonou para o seu pai avisando que iría se casar. Sería apenas
um jantar, um casamento no cartório, para oficializar um relacionamento de oito
anos. Mas para Laura não havia sido um convite ao seu pai, apenas um
comunicado.
No dia seguinte, o pai ligou para Laura, e para sua
surpresa desta vez comunicando que estaría presente no casamento. No entanto, mais
surpreendente ainda, foi Laura dizer para seu pai que não gostaría que ele
estivesse presente nesse dia.
Esse “não” na verdade foi um impulso de expressar seus
sentimentos e de “quebrar” aquela farsa
de que tudo estava bem entre eles, uma tentativa de colocar um limite nas ações
de seu pai em relação a ela, para que ele entendesse que as suas atitudes ou a
falta delas haviam causado muita dor. Entretanto, também foi um “não” cheio de
raiva e mágoa carregadas durante anos, e que ela acreditava dizer respeito
apenas ao seu irmão. Mas então, junto com esse limite imposto, com esse pedido de
respeito, ela despejou toda a sua dor de fatos que haviam acontecido durante
sua vida, sem dizer o que realmente estava sentindo, apenas apontando todos os
“erros” dele.
Apesar de ela estar segura da sua atitude ao não
permitir que seu pai fosse ao seu casamento, um mau-estar surgiu em Laura após
este desabafo. O que devería ter sido um momento para mostrar sua dor para o
seu pai, para mostrar o quanto aquela criança havia sido maltratada, as
palavras viraram-se contra ela. A mensagem de dor não alcançou o coração do seu
pai, mas apenas a raiva.
A partir desse dia até hoje eles não se falaram mais. Laura tentou uma reaproximação, mas não obteve um retorno. Ela não sabe por qual
motivo ele cortou definitivamente relações com ela depois desse dia, se pela
mesma raiva que foi proferida contra ele, por vergonha, por indiferença, por mágoa... Ela sabe que finalmente conseguiu expressar algum sentimento, consciente ou
inconsciente, de forma correta ou não. Mas acima de tudo ela percebeu que se
quer mostrar a sua dor ao outro, e se quer ser compreendida, não será através
de acusações que irá conseguir. Ela espera um dia voltar a falar com esse pai,
não na esperança de encontrar um relacionamento de pai e filha, mas para que ambos sigam em
paz os seus caminhos.
sexta-feira, 22 de maio de 2015
A Ferida e a Cura
O relato que farei aqui é sobre a primeira
situação que veio à minha mente quando o tema de aula foi proposto. Na verdade, a
lembrança deste acontecimento sempre aparece durante as aulas de vedanta,
porque o sofrimento que veio com esse momento foi um impulsionador para a busca da compreensão de mim mesma.
Logo que concluí meu mestrado fui à procura de
um emprego, pois estava em dúvida se quería continuar na vida
acadêmica, pois havia me decepcionado pela forma como a pesquisa estava sendo
conduzida não só na área que eu estudava como na ciência em geral. Então,
coloquei meu currículo em um site de empregos e, para minha surpresa, fui contratada
logo em seguida, em uma empresa que prestava serviço de consultoria e projetos
ambientais.
A primeira semana de trabalho foi meio confusa,
não sabia o que fazer, não recebia instruções, apenas um pouco de ajuda dos colegas.
Meu chefe naquela ocasião, engenheiro civil, não dominava as questões da área
biológica, e meus colegas também eram novatos no assunto.
Fui estimulada pelo meu chefe a enviar emails para uma das funcionárias do Ministério da Pesca e da Agricultura, um dos
departamentos do governo nesse assunto, que era para quem estávamos prestando
serviço. Ele sugeriu que eu tentasse
esclarecer as minhas dúvidas com o próprio contratante em relação aos
relatórios que estávamos elaborando. E foi assim que comecei a trocar emails,
fazer perguntas, sempre recebendo respostas gentis e sendo estimulada a
continuar esse contato. Assim, na segunda semana de trabalho fui chamada para
uma vídeo conferência com todos meus colegas e os contratantes.
Não entendi muito bem porque havia sido chamada
para àquela reunião, mas fui empolgada com a ideia de que estava sendo inserida
na empresa. Mas para minha surpresa não foi bem isso que aconteceu. O fato foi
que a empresa contratante, nas palavras de duas funcionárias sendo uma delas a
que eu mantinha contato por email, afirmou publicamente que eu era incompetente
e não qualificada para exercer a função que eu estava encarregada.
O sentimento imediato que surgiu foi de
vergonha, porque na verdade não estava entendendo muito bem o que estava
acontecendo. Fiquei chocada por alguns instantes assistindo ser o tema de uma
reunião da qual não fazia ideia sobre o que sería, nem quem eram todas aquelas
pessoas. Quando eu vi todos constrangidos em volta de mim, inclusive os
próprios funcionários do ministério, senti-me profundamente humilhada. Na verdade,
na minha cabeça, o que estava acontecendo era a afirmação pública daquilo que
sempre repeti e afirmei dentro de mim, ou seja, que eu não era boa nem capaz.
Mas então, se eu já sabia de tudo aquilo por que me senti tão humilhada e surpresa?
Porque no fundo o que eu queria era ser
admirada e valorizada pelas coisas que eu fazia. Eu tinha o desejo de que um dia
as pessoas me mostrassem que não, que eu estava errada, que eu não era aquilo que eu pensava de mim
mesma. Eu queria ser vista como boa e capaz.
Mas aquele reforço acabou potencializando aquele
sentimento que eu tinha em relação às minhas capacidades, obviamente devido ao
meu despreparo para encarar a vida. A minha mente extrapolou a informação recebida de que eu não era capacitada para àquela função específica, traduzindo como se eu não fosse capacitada para nada. E dessa forma fez com que eu decidisse não mais seguir
na minha profissão. Claro que não foi só por isso que desisti da biologia, pois
há muito tempo não me identificava mais com o mercado de trabalho na minha
área. Foi apenas um empurrão para que isso acontecesse.
Por um bom tempo esse acontecimento foi
negativo na minha vida. Não soube tirar o aprendizado que ele estava me
proporcionando na época, só conseguia enxergar o reforço negativo em relação a
mim mesma. Hoje eu entendo que aquela mensagem não havia sido diretamente para
mim. O contratante estava insatisfeito com o serviço da empresa que eu
trabalhava, viu em mim um ponto fraco para atingí-los; apenas isso. De fato não estava preparada para exercer
aquela função, mas não porque não era capaz. Tenho consciência que se eu
tivesse sido orientada corretamente tería realizado um bom trabalho. Mas essa experiência foi um grande
aprendizado, servindo para que eu reavaliasse a maneira como algumas palavras e
pré julgamentos podem afetar profundamente a vida de uma pessoa e de como os
julgamentos e as visões distorcidas que tenho em relação a mim também podem ser devastadores.
Leia também o texto de João Goulart publicado no vedantaonline.org
Leia também o texto de João Goulart publicado no vedantaonline.org
sexta-feira, 15 de maio de 2015
O Encontro com Yoga e Vedanta
O primeiro contato que eu tive com o yoga foi aos 15 anos.
Por algum motivo, não lembro exatamente qual, decidi que comer carne não me
fazia bem. Talvez por que já tivesse nesta época uma ligação muito forte com os
animais e com a natureza, razão pela qual vim a escolher cursar Ciências
Biológicas. Sendo assim, fui à uma livraria procurar algum livro que mostrasse
esse mundo desconhecido da cozinha vegetariana, e nele encontrei pela primeira
vez algo que falava sobre yoga. No entanto, pelas estranhas razões da vida,
apenas dois anos depois resolvi procurar algum lugar próximo à minha casa que
oferecesse aulas de yoga.
Confesso
que não lembro como foi essa primeira experiência, mas com certeza eu devo ter
gostado pois continuei fazendo por mais seis meses. Nessa época estava vivendo
aquele despertar do vazio interior que acomete quase todos nessa idade e que
permanece pelo resto da vida para muitas pessoas. No meu caso não foi
diferente. Retornei e saí do yoga muitas vezes durante os 15 anos seguintes, nunca
me aprofundando muito na prática. Apesar desse vazio que enchia a minha vida de
insatisfação, eu estava mergulhada demais nos meus traumas, nos problemas
familiares, nos meus desejos e frustrações para enxergar um pouquinho além dos
asanas e do bem-estar momentâneos que a prática me proporcionava. Nessa mesma
época, um professor recomendou-me a leitura do livro “Autoperfeição com Hatha
Yoga”, do professor Hermógenes, que apesar de ter servido de inspiração me fez
pensar que talvez eu não estivesse preparada para tudo aquilo, e realmente não
estava; eu precisava sofrer mais um pouquinho.
Aos 30
anos, já com 15 anos de mergulho profundo na ignorância de mim mesma e no
sofrimento, descontente com trabalho, com relacionamentos, e com os mesmos
questionamentos de sempre, decidi retomar as aulas de yoga. Talvez pela idade,
pelas experiências e sofrimentos vividos, ou apenas porque era o momento,
passei a enxergar a prática de outra maneira. As posturas já não eram tão
importantes pra mim, apesar de sentir-me muito bem nas aulas. Mas tinha algo a
mais que sentia que podia encontrar no yoga, pois sempre ao final das aulas
surgia uma sensação de que todos os meus problemas estavam resolvidos, mas essa
sensação sempre durava até eu atravessar a porta da escola. Então, meu
professor na época, me chamou pra fazer a formação de professores. E lá, além
do aprofundamento na filosofia, ouvi pela primeira vez sobre vedanta. Mas ainda
não estava preparada para aquele conhecimento. O meu entendimento sobre aquilo
foi muito raso, era o que eu podia naquele momento.
Fui
fazer minha segunda formação com o Tales Nunes, por sentir que não havia
compreendido a profundidade do conhecimento que eu estava tendo acesso. Aí sim foi meu contato mais profundo com o estudo. Nesse curso tive o primeiro
despertar que me levaria a procurar o estudo de vedanta. Com o yoga fui aos
poucos descobrindo que eu não era vítima do mundo, que eu era responsável pelas
minhas ações e pela forma como sería tratada pela vida. Mas aí veio também o
primeiro grande sofrimento nessa transformação. Sabendo disso, e agora, o que
eu faço? Com muitas dúvidas, muitos questionamentos, muitos problemas pessoais,
como eu conseguiria lidar com essa nova descoberta? Foi então que encontrei o
site do Jonas e vi a oportunidade de resolver este problema.
quinta-feira, 14 de maio de 2015
Om̐ namaḥ śivāya
Om̐ namaḥ śivāya (Om Namah Shivaya)
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